Co-criação no trabalho: um exercício diário de empatia.

Questionar nossas crenças não é fácil, mas é o primeiro passo na formação de crenças novas e talvez mais acertadas.
— Duncan J. Watts

Na sociedade corporativa contemporânea, com apresentação de formatos e posturas descoladas, discursos sobre ideias disruptivas, conectadas e com a inovação como a palavra de ordem, a co-criação é a metodologia que julgamos compatível e assertiva, que vai de encontro com esses novos valores.

Para iniciar esta linha de raciocínio…

Lembramos que uma corporação - que tem origem na palavra “corpo” em latim - , tem por definição um funcionamento sistêmico e interdependente assim como o corpo humano, além de ser também um organismo vivo e em constante  movimento.

Podemos considerar que esse organismo é composto por partes - pessoas - totalmente diferentes, multidisciplinares, com histórias, opiniões, vivências, preferências e comportamentos únicos e na maior parte das vezes, distintos. 

E aqui começa a reflexão:  o quanto efetivamente estamos preparados para co-criar utilizando esse arsenal de potencialidades e diversidades? 

Conversei com dois profissionais que atuam em mercados bastante distintos, questionando se utilizam essa metodologia da co-criação ou não, no dia a dia de trabalho.

Mirela Vasquez Barbosa, arquiteta e minha amiga desde a adolescência, trabalha no setor público e acredita que a co-criação precisa partir da liderança. 

“É necessário que exista compromisso e compatibilidade de ideias, conceitos e metas entre os envolvidos”, comenta. Questionei se ela acredita então que a co-criação só acontece em grupos homogêneos e se existiriam desdobramentos com inovação nesse padrão. Mirela ressaltou a necessidade de indivíduos movidos pelos mesmos objetivos, num ambiente onde não haja disputa de poder ou cargos. “Acredito que seja possível sim a criação de um grupo heterogêneo, porém a não clareza desse objetivo inviabilizaria qualquer atuação com o método da co-criação” finaliza.

Marcelo Politi, CEO da empresa Nove Eventos e chefe de cozinha por hobby, já utiliza a co-criação com sua equipe no dia a dia e garante que todos precisam estar envolvidos na causa. Enfatizou a aplicação dessa metodologia num projeto recém idealizado, que só aconteceu graças a co-criação: o cooking show NA COZINHA DO POLITI. Para Marcelo, precisa existir um objetivo claro para todos os envolvidos e nesse caso específico, além de indivíduos, a co-criação também foi feita entre as empresas.

 “As vantagens e benefícios para todos os stakeholders envolvidos no projeto precisam estar estampadas em todas as etapas e decisões, principalmente e, acima de tudo, o ganho precisa ser coletivo para todos usufruírem dos resultados”. Além disso, garante que sem a co-criação esse projeto nem seria possível. “Juntar forças, ideias, capital intelectual, conhecimentos multidisciplinares e recursos transformou esse projeto em realidade, já que sozinho eu não conseguiria”, completa.

Na Bueno Arquitetura Cenográfica, aplicamos a co-criação com nossa equipe em várias etapas do processo de cada projeto e na própria gestão, há pelo menos 15 anos, desde que adotamos uma gestão participativa. 

Mas a grande inovação é a aplicação da co-criação com os nossos clientes. E essa co-criação, aplicada ao projeto, é muito assertiva, dinâmica e rica. 

Deixa todos os esforços direcionados a um mesmo objetivo em comum, e aliada à uma narrativa processual, deixa todas as etapas claras para todos os envolvidos. 

Além de estimular a criatividade, promove o despertar das convicções arraigadas, contemplando a diversidade e promovendo a composição de grupos interdisciplinares. Justamente nesse ponto que acredito ser relevante abordar sobre nossas crenças (lá no início, com a citação de Watts) para discorrer sobre co-criação, caso contrário, será mais um termo aplicado de forma banalizada.

Nos três exemplos, foram citados objetivo e clareza no entendimento desse propósito a ser alcançado, mas acima de tudo, precisa ter o desejar.

Antes de mais nada, co-criar é acreditar. 

É ter confiança nas pessoas envolvidas, é considerar possível, é querer fazer acontecer, é praticar a empatia durante o processo, e entender que apesar de sermos individualmente completos, no processo da co-criação, somos fragmentos de um todo e esse todo só é possível, com a junção das partes, para que todos, possam usufruir dos melhores resultados.

Para co-criar é preciso deixar a vaidade de lado, enaltecer as diferenças, buscar e utilizar habilidades, usufruir da sensibilidade das partes, promover a composição dessas partes, lapidar em conjunto, construir, desmanchar tudo se for preciso, reconstruir, avaliar, aplaudir, e principalmente, se divertir ao perceber que o caminho a ser percorrido pode ser tão prazeroso quanto o destino. Tenho visto e vivido muito isso, e digo: vale a pena, meus amigos!

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