A banalização da propriedade intelectual: Briefing, essa ferramenta sobreviverá?

É somente por meio do engajamento em grandes ideias que podemos encontrar sentido e propósito para as nossas vidas. Elas nos capacitam não apenas a tomar decisões, mas também a defender pontos de vista que assumimos a respeito de questões importantes.”
— Arthur Caplan, no prefácio do livro 1001 ideias que mudaram nossa forma de pensar.

Assumir e defender pontos de vista a respeito de questões importantes, principalmente baseado em ideias, foi minha inspiração para discorrer sobre briefing neste artigo. 

Vou me esforçar para abordar de forma ampla esse tema, já que essa ferramenta tem aplicabilidade em várias áreas, porém, apesar de iniciar com uma citação de Caplan com uma definição tão pertinente com a real necessidade de aprofundamento da discussão de uma ideia, será inevitável seguir rumo ao live marketing e a cenografia.

Buscar assertividade na percepção da necessidade do cliente, requer uma discussão mais aprofundada e que efetivamente não estamos conseguindo alcançar, por três fatores

  • Superficialidade na definição do objetivo; 

  • Desconhecimento da necessidade/desejo; 

  • Terceirização da discussão sobre a ideia. 

Não quero abordar aqui as questões tempo e verba, vou tirá-los do contexto para não usarmos como um viés na discussão. 

Numa enxurrada de briefings medíocres sendo disparados por todos os lados, temos enfrentado muita similaridade em todos eles, que se caracterizam por: nome do evento, data, quantidade de pessoas convidadas, local, as ações listadas (as vezes) e o discurso para encerrar: 

Precisa ser criativo, inovador, tecnológico e “moderno”. Esse é o briefing, pronto

Se nos atrevemos a questionar linhas conceituais, referências, mote, partidos, metodologias, pontos de impacto e engajamento, formas de experiência possíveis, entre outros, numa tentativa de desenvolver uma criação multilateral, corre-se o risco de ouvir um belo: Para isso que te chamei aqui, espero receber um projeto surpreendente. E na entrega do projeto, corre-se o risco de ouvir um provável: Bonito, mas o mais do mesmo! 

Não dá para surpreender dessa forma, não existe mágica, existe suor intelectual e trabalho árduo. 

Para entregarmos a experiência como resultado real, sem pular as etapas de assertividade, encantamento, imersão e engajamento, precisam ser, da mesma maneira, praticadas essas etapas durante o processo de criação, com muitas mãos, com ampla discussão, com tomadas de decisões efetivas. Mas como será possível, se nem sempre existe clareza no objetivo do evento e tão menos o genuíno interesse em desenvolver uma ideia coletiva? 

A experiência é mais que uma ferramenta, é um recurso que vai manter o ser humano no lugar de decisor e influenciador, como mostra a publicação sobre Previsões da Singularity University até 2038. 

O que gostaria, entretanto, com esse artigo, é convidar para uma reflexão sobre o quanto estamos engajados nas discussões de ideias que o briefing se propõe na sua essência, já que é dele que se obtém o resultado efetivo? Não é possível desconectar o briefing da experiência que o evento se propõe a causar. 

E como uma das mais importantes ferramentas do live Marketing é a cenografia e na concepção da experiência e em todo o processo de significação e construção do evento é o que mais reverbera, estimula e promove no indivíduo um residual permanente, temos enfrentado situações de grande desgaste, pois não conseguimos recorrer aos elementos complementares da ação cenográfica sem uma linha conceitual definida, aprofundada e bem embasada. 

E o mais agravante, acima de tudo, é a nossa propriedade intelectual ser altamente solicitada, mesmo sem ter sido efetivamente contratada. 

Então, defendo aqui, em forma de manifesto:

Um maior reconhecimento dos profissionais criativos, que se empenham na discussão do conceito com envolvimento e aprofundamento em pesquisas, a valorização do aspecto intelectual, com menos desperdício de ideias e projetos, já que são jogados fora em concorrências inescrupulosas, sem a devida valorização à propriedade intelectual, sem valoração do ser humano como pensador, pois efetivamente é o que nos sobra, já que a tecnologia está tirando nossas profissões e ocupações, que pelo menos nossa mais preciosa joia, nosso intelecto, seja preservado, valorizado e principalmente remunerado.

Não somente no setor de eventos, mas toda iniciativa privada e pública, que demandem ações para engajar pessoas, precisam se preparar para discussões mais aprofundadas em relação aos objetivos dessas ações, pois só atingiremos pessoas através da experiência, se debatermos e trocarmos ideias com repertórios multidisciplinares e com menos superficialidade. 


É impossível ter assertividade onde há banalização da propriedade intelectual. 

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